O PAI NATAL GULOSO
O Natal estava a chegar e o velho Pai Natal aflitíssimo! De mãos na cabeça, queixou-se às renas.
- Eu não aguento. Cada vez há mais gente à espera de presentes. É impossível fazer tanto trabalho numa noite só. Devíamos dividir o Natal. Uns festejavam no inverno e outros no verão!
Todas acharam graça à ideia mas sabiam muito bem que a data não podia mudar...
Quem se lembrou de propor uma solução foi a rena Madalena.
- Arranje um ajudante. Distribuímos os sacos por dois trenós e torna-se tudo mais rápido e mais fácil.
As companheiras reagiram logo com grande entusiasmo. Se regressassem a casa cedo, que surpresa maravilhosa para as famílias! Trataram pois de convencer o Pai Natal e ele contratou um rapaz corado, bem disposto, gordinho e … muito guloso! Tão guloso que, quando se viu no armazém das prendas, só requisitou caixas de bombons, tabletes de chocolate e pacotes de rebuçados. O trenó, cheio até cima, parecia a montra de uma pastelaria ambulante.
Satisfeitíssimo, o novo Pai Natal esfregou as mãos, esfregou a ponta do nariz que estava vermelha do frio e partiu voando por cima dos telhados. Mas como resistir à gulodice?
- Se eu provasse um chocolate? - pensava. - Se for só um, dos mais pequenos, não deve haver problema.
Não tinha experiência e portanto não sabia que os chocolates são como as cerejas. Atrás de um veio outro e outro... Assim, antes de chegar à primeira casa já tinha comido tudo.
Pobre rena Madalena! Ao olhar para trás ia desmaiando de susto. Os sacos estavam vazios, as caixas desfeitas e o trenó repleto de papéis amachucados. Furiosa, pôs-se a gritar:
- Francamente! Não tens vergonha?
- Não me ralhes, que estou agoniado.
- Claro que estás agoniado. Outra coisa não seria de esperar. Mas agora, meu lindo, não tens outro remédio senão voltar ao armazém para ires buscar mais prendas!
As renas, sempre compreensivas e simpáticas, aceitaram dar a segunda volta aos céus. Para recuperarem o tempo perdido tiveram de acelerar e fazer a distribuição à pressa. Deste modo houve casas em que caiu tudo ao contrário: a avó encontrou no sapato um belo par de patins, o pai encontrou duas bonecas, a mãe, um ursinho de peluche, o bebé, três canetas e um avental de cozinha...
Mas as pessoas não se importaram. Foi até mais divertido porque de cada vez que abriam um pacote soavam risos na sala.
- Isto? Para mim?
Depois efectuavam-se as trocas na maior alegria.
Quanto ao velho Pai Natal, resmungou imenso a caminho do Pólo Norte.
- Não volto a contratar ajudantes. Gente nova só pensa em comer. São gulosos, muito gulosos!
- Ora, ora – disse-lhe a rena Madalena – esqueça! No Natal, toda a gente é gulosa!
MAGALHÃES, Ana Maria e ALÇADA, Isabel; MARQUES, Carlos (il.)- Natal! Natal!: cinco histórias e uma peça de teatro; Lisboa, Caminho, 2004, pág.10-11
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